Gênero e Sexualidade
Ao ler o blog e
discussões em sala com colegas de aula descobri que sou "preconceituoso
involuntário", a falta de informação ou o desejo de busca-la pode fazer de
nos "analfabetos de gênero" incapazes de viver em uma sociedade tão
diversa sem excluir os que aos olhos ignorantes são "diferentes"! Mas
como discutido em aula o que e “normal” e o que e “diferente”? Em nosso meio social
no convívio diário com pessoas diferentes e com
formas diferentes de ver um ao outro aprendemos que aquele que não se parece
com alguém do “grupo” ou sociedade e diferente e não e bem vindo nele e isso acontece
com uma exclusão velada como vimos no texto que trata do gênero, a falta de convivência
com as minorias tem tornado nossa sociedade intolerante e despreparada para incluí-los.
Eu
pessoalmente como acadêmico e docente e envolvido com trabalhos sociais percebi
o meu despreparo em lidar com tais pessoas e por isso usei o termo “preconceituoso
involuntário” por não buscar o saber ligado a aos problemas enfrentados por
essas minorias para melhor compreende-los. Já o “analfabeto de gênero” vejo no
dia-a-dia o despreparo do comercio, oficinas e ambientes de convivência social
predominantemente de pessoas sem qualquer preparo ou instrução que não
conseguem aceitar a orientação sexual de outras, como se cada um já não tivesse
que cuidar de sua própria vida e agora querem cuidar da vida dos outros e o que
e pior sem serem convidados para tal tarefa, essas pessoas tachadas de “diferentes”
trabalham produzem e consomem e querem o mínimo esperado de todos, respeito e
inclusão.
Como
Professor fiquei ansioso em saber como multiplicar esses conhecimentos de forma
didática e acessível para o nível escolar de meus alunos e ao ler o artigo da
professora Guacia encontrei dicas
valiosas para alcançar meu objetivo, compartilho no blog só a introdução das
palavras dela mas ao fim nas referencias podem encontrar o caminho para lerem o
artigo completo.
Educação e docência: diversidade, gênero e sexualidade
Guacira Lopes louro Professora da Universidade federal do
Rio Grande do Sul
Introdução
O tema
“gênero e sexualidade” geralmente nos fascina, nos provoca curiosidade e está
por toda parte. Falar sobre prazer, desejo e amor pode ser ótimo e discutir
como se experimentam todas essas coisas quando se é uma mulher ou um homem,
quer dizer, discutir se há distinções e aproximações nas experiências ou nas
vidas dos sujeitos masculinos e femininos também costuma provocar discussões
acaloradas e instigantes; mas, quando temos de encarar esses temas em nossa
posição de educadoras e educadores, as coisas parecem se complicar.
Há muito
tempo venho estudando e trabalhando com essas questões. Por certo, não faço
esse trabalho sozinha, mas juntamente com muitos parceiros e parceiras: com
meus colegas do GEERGE (Grupo de
Estudos de Educação e Relações de Gênero), com estudantes do Programa de
Pós-graduação em Educação da UFRGS, com
muitos outros colegas e estudantes dos vários grupos e núcleos de estudo que se
espalham pelo Brasil e pelo exterior, e com tantas professoras e professores
como vocês com quem tenho tido oportunidade de dialogar. Tenho consciência,
portanto, de que essas questões são muito importantes para quem trabalha no
campo da Educação, muito especialmente para quem lida, cotidianamente, com
crianças e adolescentes, para quem se vê desafiado a acolher e dar algum
encaminhamento às dúvidas, às perguntas e às situações que essas crianças e
jovens constantemente nos colocam.
São muitas
as possibilidades de encaminhar uma discussão dessas questões. Apresento a
seguir quatro pontos ou aspectos que poderão, mais adiante, ser desenvolvidos
ou ampliados.
Em
primeiro lugar, parece importante esclarecer como estou compreendendo os dois
conceitos centrais desta fala: gênero e sexualidade. Repetidos por todo mundo,
nas mais diferentes situações, nas práticas cotidianas, na mídia, na escola,
etc., muitas vezes esses termos aparecem juntos, numa indicação de que são
dimensões da vida extremamente articuladas. Concordo com isso, mas acho que se
pode dizer que entre gênero e sexualidade, mais do que articulações há, muitas
vezes, embaralhamentos, misturas, confusões. Não me refiro apenas a
indistinções conceituais, como aquelas que alimentam os debates acadêmicos, mas
me refiro, talvez de modo mais candente, às indistinções do senso comum – como
a noção de que é um “sujeito gay não passa, ao fim e ao cabo, de uma
mulherzinha” ou a noção de que é “impossível ser feminina e lésbica” –, noções
que acabam por se naturalizar de tal modo que se tornam quase imperceptíveis.
Essas noções estão muito arraigadas em nossa cultura e lidamos com elas
constantemente em nossas escolas, na nossa família ou, até mesmo, dentro de
nós. As consequências políticas de noções desse tipo são demasiadamente
importantes para que possam ser desprezadas. Por isso, antes de mais nada,
parece-me que vale a pena deixar clara a perspectiva que informa minha fala.Há
muito que estudiosas feministas procuram demonstrar a especificidade e,
consequentemente, a distinção entre gênero e sexualidade e, ao mesmo tempo, sua
estreita articulação. Entre essas estudiosas, o conceito de gênero surgiu pela
necessidade de acentuar o caráter eminentemente social das diferenças
percebidas entre os sexos. Apontava para a impossibilidade de se ancorar no
sexo (tomado de modo estreito como características físicas ou biológicas dos
corpos) as diferenças e desigualdades que as mulheres experimentavam em relação
aos homens. O conceito levava a afirmar que tornar-se feminina supõe uma
construção, uma fabricação ou um aprendizado que acontece no âmbito da cultura,
com especificidades de cada cultura. Portanto, as marcas da feminilidade são
sempre diferentes de uma cultura para outra; essas marcas se transformam, são
provisórias. Inscrevê-las num corpo supõe, também, lidar com as marcas
distintivas do seu outro, a masculinidade. Percebe-se, então, que ao falar de
gênero estamos nos referindo a feminilidades e a masculinidades (sempre no
plural). A potencialidade do conceito talvez resida exatamente nesta noção, a
de que se trata de uma construção cultural contínua, sempre inconclusa e
relacional.Apesar de algumas resistências, essas ideias já vêm sendo admitidas
por muitos. Mas as coisas costumam se complicar um pouco mais quando se trata
da sexualidade. Inúmeras pesquisadoras e pesquisadores comentam o quanto parece
ser difícil admitir que a sexualidade também é construída culturalmente. A
dificuldade parece residir no fato de que, usualmente, se associa (às vezes até
se reduz) a sexualidade à natureza ou à biologia. E, quando se assume este modo
de pensar, frequentemente, se supõe que a natureza e a biologia constituem uma
espécie de domínio à parte, alguma coisa que ficaria fora da cultura.
Contrariando essa posição, é interessante lembrar Jeffrey Weeks (1999), um
destacado estudioso, que afirma que “as possibilidades eróticas do animal
humano, sua capacidade de ternura, intimidade e prazer nunca podem ser
expressadas ‘espontaneamente’, sem transformações muito complexas”. E as
transformações a que Weeks se refere podem ser entendidas como a linguagem, os
jeitos, os códigos, enfim, todos os recursos que usamos para expressar nossos
desejos. É inegável que a forma como vivemos nossos prazeres e desejos, os
arranjos, jogos e parcerias que inventamos para pôr em prática esses desejos
envolvem corpos, linguagens, gestos, rituais que, efetivamente, são produzidos,
marcados e feitos na cultura.
REFERÊNCIAS
BRITZMAN, Deborah. O que é essa coisa chamada
amor. Identidade homossexual, educação e currículo. Revista Educação e Realidade.
Porto Alegre: UFRGS,
Faculdade de Educação, vol. 21, n. 1, jan./jun. 1996.
LOURO, Guacira Lopes. Pedagogias da
sexualidade. In: LOURO,
Guacira (Org.). O
corpo educado – pedagogias da sexualidade. Belo Horizonte:
Autêntica, 1999.
LOURO, Guacira Lopes. Currículo, gênero e
sexualidade – o “normal”, o “diferente” e o “excêntrico”. In: LOURO,
Guacira Lopes; GOELLNER,
Silvana Vilodre.; NECKEL,
Jane Felipe (Orgs.). Corpo,
gênero e sexualidade. Um debate contemporâneo na Educação.
Petrópolis: Vozes, 2003.
WEEKS, Jeffrey. O corpo e a sexualidade. In: LOURO,
Guacira Lopes (Org.). O
corpo educado – pedagogias da sexualidade. Belo Horizonte:
Autêntica, 1999.
http://formacaodocente.autenticaeditora.com.br/artigo/exibir/9/30/6